CORONAVÍRUS: Dentistas em risco de falência em série. “Só não estamos parados, porque dor de dentes não faz quarentena”

CORONAVÍRUS: Dentistas em risco de falência em série. “Só não estamos parados, porque dor de dentes não faz quarentena”

27/04/2020 0 Por Carlos Joaquim

Os consultórios e clínicas dentárias vivem dias de agonia, devido às restrições provocadas pela pandemia de Covid-19. Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas denuncia o risco de falências em série e adverte para a necessidade de responder ao agravamento da saúde oral dos portugueses. Médicos apelam à publicação urgente de regulamentação para preparar a reabertura.

Na clínica dentária de Jorge Teixeira, em Marco de Canaveses, existem três cadeiras onde, por estes dias, raramente se têm sentado pacientes. Para além dos três médicos dentistas, trabalham, no mesmo local, um protésico (técnico de próteses) e quatro assistentes, para receção e apoio às consultas.
“Estamos praticamente parados, exceção feita a algumas urgências porque, infelizmente, as dores de dentes não fazem quarentena”, diz, à Renascença, Jorge Teixeira, um dos dois irmãos Teixeira, ambos médicos e sócios gerentes desta clínica dentária. Jorge descreve a situação como “complicadíssima, porque não dispomos de faturação para suportar as despesas do momento”.
A questão, nesta como em outras muitas clínicas, prende-se nomeadamente com os contratos de “leasing” de equipamentos, que não são baratos, e que têm de continuar a ser pagos, mas também com o pagamento de salários ao fim do mês. Nesta fase, há um problema acrescido, faz notar Jorge Teixeira: “Com o valor dos ‘kits’ de proteção individual que temos de utilizar em cada consulta, chegamos ao fim e percebemos que o fizemos foi praticamente por carolice e para que os nossos pacientes não fiquem com mazelas”.
As clínicas e consultórios de medicina dentária, num plano estritamente económico, funcionam como micro ou pequenas empresas. Algumas recorreram ao “lay-off”, embora Jorge Teixeira reconheça que a situação “nunca ficou muito clara, porque, por um lado, os trabalhadores não podem trabalhar, mas, por outro, têm de atender casos urgentes”. Diferente, mas não menos preocupante, é o problema que se coloca aos proprietários que são simultaneamente sócios gerentes. Na prática, como explica Jorge Teixeira, “sócios dentistas; neste caso, eu e o meu irmão, os donos da clínica, estamos há dois meses sem salário”, faz notar.

O que mudou com o estado de emergência

Habituados a lidar com padrões elevados de proteção e higiene, para se salvaguardarem a eles e aos utentes, os dentistas adotaram um conjunto de medidas para reforçar essa vertente no decurso dos diferentes atos médicos.
“Todos passámos a ter uma roupa de trabalho específica para cada dia, a que juntamos uma bata descartável para aumentar a nossa proteção e fazemos uso de máscaras mais específicas para esta situação da Covid, óculos e luvas”, explica Jorge Teixeira, complementando que “a Ordem aconselha a trabalhar com dois pares de luvas; o primeiro serve para retirar todo o equipamento de proteção usado e só depois se retira o segundo par de luvas”.