Governo promete comprar feijão bóer nas mãos das populações a 10 meticais o quilo… mas não tem dinheiro

Ao abrigo de um memorado rubricado em 2016 pelos governos de Moçambique e da Índia o Governo de Filipe Nyusi incentivou os camponeses e agricultores nacionais a cultivarem o feijão bóer tendo em vista o compromisso do país asiático de importar 375 mil toneladas de leguminosas até 2019, 100 mil na campanha 2016/17, 125 mil na campanha 2017/18 e 150 mil toneladas na safra agrícola 2018/19.
O desafio foi acolhido e o nosso país registou uma produção recorde na campanha em curso. Porém produção significativa aconteceu também na Índia e o Governo de Narendra Modi faltou com o seu compromisso deixando os camponeses e agricultores moçambicanos com milhares de toneladas de grãos sem mercado.
Os compradores do feijão bóer que se propunham a pagar até 50 meticais por quilograma baixaram a sua oferta para 5 meticais o quilo, em determinadas regiões do nosso país até se está a pagar somente 2 meticais, um valor que não chega sequer para cobrir os custos de produção investidos pelos moçambicanos.
Na passada quarta-feira(29) o ministro da Indústria e Comércio, Max Tonela, explicou durante a sessão de questionamento do Governo pelos deputados da Assembleia da República que também contribuiu para a queda do preço o oportunismo de alguns importadores que aproveitaram-se da quota de Moçambique para exportar feijão cultivado em alguns países vizinhos que não têm o privilégio que o nosso país conquistou junto do mercado indiano.
“Mostrando-se premente disciplinar a gestão e o controle dos mecanismos de exportação face a existência de um aproveitamento indevido por parte de empresas não registadas em Moçambique o Governo decidiu pela emissão em regime de exclusividade do Certificado de Origem deste produto, pelo Instituto de Cereais de Moçambique, bem como a centralização do processo de gestão da quota e a articulação com o governo indiano, pelo referido Instituto, sobretudo tendo em conta que Moçambique é o único país da região com este tipo de parceria e outros países da região produzem este tipo de produto e não têm neste momento mercado” afirmou Tonela.
O ministro revelou ainda que “o governo está a mobilizar recursos para assegurar a recolha e processamento do feijão bóer remanescente nas mãos das populações devendo ser colocado no mercado na próxima quota a ser explorada a partir de Março de 2018”.
3 milhões de dólares para Grupo ETG comprar todo feijão bóer nas mãos dos agricultores
Entretanto o @Verdade entrevistou o diretor-geral do Instituto de Cereais de Moçambique(ICM), João Macaringue, que precisou que o objetivo do Executivo é comprar “(…)tudo o que sobrar e o que for acessível sob o ponto de vista de disponibilidade e vias de acesso. Mas a filosofia por detrás é a população produziu, foi um processo de campanha com base no memorando que existe com a Índia, e as pessoas não sabiam que há quotas”.
Macaringue disse ao @Verdade que o ICM estima terem ficado por exportar entre 120 mil a 130 mil toneladas, quantidades que ainda estão a ser apuradas.
“Temos consciência que há ainda muita produção nas mãos da população e porque queremos que o processo de desenvolvimento da agricultura, que o aumento da produção e da produtividade mantenha, não é uma campanha é um processo tendencialmente continuado de modo a estabilizar aquilo que é o bem estar das populações que vivem da agricultura o Governo tomou esta iniciativa de garantir a recolha de todo o feijão bóer”, esclareceu o diretor do ICM.
João Macaringue revelou ao @Verdade que “o Governo colocou à disposição até este momento cerca de 3 milhões de dólares norte-americanos para a compra do feijão bóer”, que serão disponibilizados ao Grupo ETG – Export Trading Group(uma empresa de capitais das Maurícias e da Índia), “que vai proceder a recolha, processamento e vai armazenar (…)porque é a única que tem três fábricas de processamento e capacidade de armazenamento” em Moçambique.
Segundo o diretor-geral do ICM o feijão bóer “processado dá para armazenar durante o ano, sem processamento deteriora-se com muita facilidade”. A fonte declarou ao @Verdade que a formalização do negócio deverá acontecer na próxima semana e precisou que com o dinheiro disponibilizado o que Governo espera poder pagar “um preço médio de 10 meticais”.
Governo não explica de onde virá o dinheiro para comprar o feijão bóer

Questionado pelo @Verdade se o valor chegaria para pelo menos os camponeses e agricultores recuperarem os custos investido na produção João Macaringue disse que “os nossos camponeses da forma que operam é difícil determinar os custos de produção, este valor é o que se pensa ser razoável entre o que se está a praticar neste momento e o que é o máximo que alguns fazem em termos de compra”.
Instado a explicar de onde virão estes 3 milhões de dólares para a compra do feijão bóer, visto o Instituto de Cereais de Moçambique não está sequer listado no Orçamento do Estado o diretor só replicou que virá do Governo sem precisar a fonte.
O @Verdade contactou a assessoria de imprensa do ministro Max Tonela para apurar a fonte financiamento de mais esta actividade extraordinária, quiçá de emergência, do Executivo, tendo em conta os défices do Orçamento de Estado devido as dívidas ilegais, mas nenhuma explicação foi dada.
O Orçamento de Estado de 2017 e a proposta de Orçamento para 2018 não prevêem este montante, aliás nem sequer consta dos Planos Económicos e Sociais a “acção” de comprar feijão bóer.
Contudo uma fonte com conhecimento do dossier revelou ao @Verdade que a solução passará por mais um empréstimo bancário com Garantia do Estado.
Mas se os 3 milhões de dólares não estão ainda assegurados contas feitas pelo @Verdade projectam que o montante será poderá ser insuficiente para adquirir todo feijão bóer ainda nas mãos dos camponeses e agricultores que ronda as 100 mil toneladas, a 10 meticais o quilograma seriam necessários pelo menos 16 milhões de dólares norte-americanos mais os restantes custos inerentes a logística.
Fonte: Jornal A Verdade, Moçambique