Ana Alexandra Gonçalves*
Passos Coelho não deixa escapar uma, mostrando-se implacável no que toca a reclamar louros. Desta feita, o ex-primeiro-ministro lembra, com toda a ênfase possível, que foi no seu Governo, e apenas no seu Governo, que se baixou aquilo que é comummente designado por rendas excessivas pagas à EDP.
De fora do discurso exaltado de Passos Coelho, ficaram tanto o facto da troika ter visado precisamente os Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (rendas excessivas), como o facto do seu Governo ter feito manifestamente pouco, sobretudo em relação ao que a própria troika pretendia, já para não falar na demissão do secretário de Estado da Energia, Henrique Gomes, precisamente resultado da pressão das eléctricas.
Quem oiça Passos Coelho fica com a ideia de que o anterior primeiro-ministro foi responsável por uma redução drástica das tais rendas e pelo cerceamento da promiscuidade que existe há décadas entre poder político e poder económico, no caso a EDP. A redução drástica das rendas e o fim da promiscuidade é por conta de Passos Coelho, sempre preocupado com a classe média e com os mais pobres que viam as suas facturas de electricidade dispararem devido às ditas rendas excessivas. Faz de conta que foi assim.
Vem tudo isto a propósito das referidas rendas adicionais que o Estado paga à EDP estarem agora sob investigação e do facto de António Mexia e Manso Neto terem sido constituídos arguidos.
Os vários Governos sucumbiram à dita promiscuidade, desde Cavaco, Guterres, Barroso, Sócrates e Passos Coelho que mesmo sob pressão da troika pouco fez, deixando mesmo cair um secretário de Estado por pressão da EDP.
O Governo de António Costa também ainda está por dar mostras de querer seriamente uma solução para rendas que pesam obscenamente na factura energética, fazendo com que os custos da energia em Portugal sejam dos mais altos de toda a Europa.
Em abono da verdade existe um partido político em Portugal tem vindo, ao longo de largos anos, a denunciar a situação, apresentando soluções para o problema: o Bloco de Esquerda. Este é o único partido que merece reclamar trabalho feito nesta área. A ver vamos se o Partido Socialista aproveita esse trabalho e coloca um ponto final num dos maiores exemplos de promiscuidade entre poder político e poder económico que tanto tem lesado os cidadãos. Entretanto, Passos Coelho entretém-se, fingindo que esta também é por sua conta, tal como no passado recente os números do desemprego sofreram uma redução em consequência directa do trabalho feito pelo seu Governo. Faz de conta.
*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão