Macroscópio – O tempo passa muito depressa

13/05/2016 0 Por Carlos Joaquim

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

Mais uma semana que chega ao fim. Uma semana em que se falou dos seis meses que este Governo já leva no poder – isso mesmo: parece que foi ontem, e já lá vão seis meses. Uma semana antes de outra em que o Observador completará dois anos – não há mesmo engano: nascemos a 19 de Maio de 2014. Tanto tempo, tão depressa. Ontem começámos a desvendar um pouco o véu de como vamos assinalar este nosso segundo aniversário, contandoao Expresso que vamos oferecer aos nossos leitores a possibilidade de lerem em papel alguns dos melhores artigos que publicámos desde que nascemos – e já publicámos mais de 55 mil. Falaremos mais e melhor sobre esta nossa edição, mas para já deixo-vos um aperitivo: a capa. E acrescento uma sugestão: reserve um exemplar na banca de jornais mais próxima, porque não vai querer perder.

Entretanto vamos de fim-de-semana e hoje, apesar deefervescência política e das más notícias económicas, vou fazer uma pausa em assuntos de actualidade e sugerir leituras muitas vezes mais longas e mais repousadas. Começando por relembrar alguns Especiais do Observador que talvez vos tenham passado despercebidos. Vamos a eles.

  • D. Manuel Clemente: “Há dois mil anos os intelectuais também não se interessaram muito por Jesus”. Numa altura em que dezenas de milhares de portugueses se juntam em Fátima para mais um 13 de Maio, Maria João Avillez conversou com o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, sobre a Igreja, a história, o país e os portugueses. E sobre Fátima, claro: “A mensagem é fortíssima!”. Trata-se de uma entrevista originalmente publicada na revista Fátima XXI e que esta gentilmente cedeu ao Observador. 
  • Bogart ainda é o maior galã da história? Alexandre Borges recordou que o último filme de Bogie estreou há 60 anos, a 9 de maio de 1956 e que, desde então, o cinema, os homens, as mulheres e os gostos mudaram. Mas já terá aparecido galã melhor? O Observador fez o teste em seis rounds.
  • Da Porca ao Malavado. Uma viagem de três mil km pelo país dos nomes caricatos. Tiago Palma foi para a estrada à procura de terras portuguesas com nomes, digamos, caricatos. Mais de três mil quilómetros e muitas curvas depois, eis as seis histórias que recolhemos de norte a sul. A fotografia que ilustra esta reportagem é também um alerta: o texto utiliza linguagem que pode ferir algumas susceptibilidades.
  • Roger Crowley e os Descobrimentos: “Os portugueses sabiam muito bem usar a violência”. A propósito do lançamento do novo livro “Conquistadores”, sobre o período áureo dos Descobrimentos portugueses, Jaime Nogueira Pinto esteve à conversa com o autor, Roger Crowley, que assegura: “A História portuguesa está cheia de mistérios e silêncios”. Um livro apaixonante, uma entrevista desafiante.
  • Camarada Arlete a Belém! A trotskista vigarista. Quem se lembra de Arlete Vieira da Silva, uma mulher que esteve quase a fazer história há 40 anos? Poucos, muito poucos, mas Bruno Vieira Amaral recupera a história de alguém que, em 1976, foi a candidata dos partidos trotskistas – PRT e LCI – a Presidente. Mas que, afinal, em vez de antifascista era uma caloteira.
  • “O Porto não é só Serralves e Casa da Música”. 18 anos depois, o Coliseu tem um novo presidente, novas salas, mais espetáculos e público, razão por que Sara Otto Coelho foi visitá-lo. E, também, verificar que nem tudo corre bem e as contas mostram prejuízo. Paz Barroso disse-lhe que falta financiamento, obras e ópera.
  • Pedro Guerra. A vida do benfiquista que colecciona inimigos. A jornalista Rita Garcia foi tentar saber quem é Pedro Guerra, o benfiquista que incendeia um dos painéis desportivos das televisões portuguesas. E descobriu que antes ele foi o génio dos títulos d’O Independente, um jornalista temido e um fiel assessor de Paulo Portas. Tudo isto a propósito do lançamento do livro “Alma Benfiquista”. Por isso mesmo, procurem abrigo: vem aí mais uma polémica.
  • “Olá, o meu nome é Norma mas podes tratar-me por Marilyn”. José Carlos Fernandes interroga-se sobre se há predestinação num nome, mas sem encontrar uma resposta definitiva, antes muitas pistas: “Não se sabe, mas, do cinema à política, não faltou quem escolhesse ficar na história com um nome diferente daquele que lhe foi dado à nascença.”

 

E agora, saindo de Portugal, aqui ficam mais algumas referências para textos com que me cruzei nos últimos dias e que me pareceram leituras bem interessantes, começando por um “pacote” de três peças que tratam de um mesmo assunto: os 50 anos da Revolução Cultural com que Mao virou a China de pernas para o ar, causando mais destruições sem fim e acrescentando alguns milhões de mortos à sua contabilidade pessoal:

  • ‘We thought Mao was doing a wonderful thing,’ says British Red Guard 50 years after China’s Cultural Revolution, uma reportagem em Pequim de Neil Connor, do Telegraph. É um trabalho que resulta sobretudo de uma conversa com um dos poucos estrangeiros que então vivia na China, “Michael Crook, a Briton whose Communist father moved to China before the Second World War”. Só que, “Perhaps ironically for a man who was a foot soldier for the most radical social levelling movement of all time, Mr Crook went on to set up a successful private school for expat children in Beijing”.
  • The Scars of Mao’s Cultural Revolution é a recensão do Wall Street Journal a um livro recente – The Cultural Revolution: A People’s History, 1962-1976, de Frank Dikötter – onde se recordam os trágicos eventos dessa época. Como aqui se escreve, por exemplo, “The damage to the economy was immeasurable. Around the coastal town of Shantou, 278 villages were reduced to poverty when embroidery was declared feudal. An attempt to move major production inland was “probably the biggest example of wasteful capital allocation made by a one-party state in the twentieth century.” Outras recensões deste livro podem ser lidas no Observer, no New York Times ou no Financial Times.
  • The Cultural Revolution: all you need to know about China’s political convulsion é um trabalho do Guardian construído na fórmula de perguntas e respostas. Eis uma dela, com parte da resposta: “What was the Little Red Book? The Cultural Revolution’s official handbook was the Little Red Book, a pocket-sized collection of quotations from Mao that offered a design for Red Guard life. (…) At the height of the Cultural Revolution, Little Red Book reading sessions were held on public buses and even in the skies above China, as air hostesses preached Mao’s words of wisdom to their passengers. During the 1960s, the Little Red Book is said to have been the most printed book on earth, with more than a billion copies printed.”

Como bom contraponto ao que representou o maoismo sugiro-vos a leitura de Who Was David Hume?, a recensão a uma recente biografia daquele filósofo do Iluminismo Escocês, escrita por Anthony Gottlieb, um antigo director da The Economist, e publicada na New York Review of Books. O livro em causa éHume: An Intellectual Biography, de James A. Harris, e a vantagem deste texto é que ele, como é habitual naquela revista de livros (mas não só), faz uma ampla apresentação da tese aí defendida, resultando por isso numa boa introdução à história e ao pensamento de David Hume. Alguém que continua a ser hoje extremamente influente: “David Hume, who died in his native Edinburgh in 1776, has become something of a hero to academic philosophers. In 2009, he won first place in a large international poll of professors and graduate students who were asked to name the dead thinker with whom they most identified. The runners-up in this peculiar race were Aristotle and Kant. Hume beat them by a comfortable margin. Socrates only just made the top twenty.”

A fechar por hoje, e por esta semana, uma última sugestão mais ligada à actualidade, em concreto às eleições nos Estados Unidos. Trata-se de um interessante texto de Andrew Sullivan publicado na revista New York: Democracies end when they are too democratic. É uma reflexão que começa por lembrar Platão – cujas teses o autor conhece, mas que não subscreve – para depois discutir o que está suceder ao sistema de equilíbrio de poderes nos Estados Unidos. Eis um pouco do seu ponto de partida: “Part of American democracy’s stability is owed to the fact that the Founding Fathers had read their Plato. To guard our democracy from the tyranny of the majority and the passions of the mob, they constructed large, hefty barriers between the popular will and the exercise of power. (…) This separation of powers was designed precisely to create sturdy firewalls against democratic wildfires. Over the centuries, however, many of these undemocratic rules have been weakened or abolished.” Não vou tentar resumir o argumento que se segue, apenas sugiro que o considerem, até pelo seu caracter quase provocatório. Faz pensar, e pensar faz bem.

Desejo-vos um bom fim-de-semana. Com sol? Espero também que sim.

 

Mais pessoas vão gostar da Macroscópio. Partilhe:

no Facebook no Twitter por e-mail

Leia as últimas

em observador.pt

Observador

©2015 Observador On Time, S.A.
Rua Luz Soriano, n. 67, Lisboa