A santidade não tem idade

30/01/2019 0 Por Carlos Joaquim
♦  Plinio Maria Solimeo
MilagreA santidade está ao alcance de todos, mesmo das crianças. Temos disso um magnífico exemplo nos dois pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta, que atingiram alta santidade antes dos 12 anos. Hoje nos ocuparemos de outro menino, o italiano Manuel Foderà [foto], falecido aos nove anos, que também atingiu grande santidade oferecendo seus agudos sofrimentos pela conversão dos pecadores.
Com base em um diário, cartas e testemunhos do filho, Enza Maria Milani, sua mãe, escreveu em colaboração com o Pe. Varério Bocci, um livro intitulado Manuel, Il picollo guerriero della Luce [foto abaixo]. Baseamo-nos na recensão que Nuova Bussola Quotidiana fez desse livro, a qual foi transcrita por Religiónen Libertad, e nas declarações do Pe. Inácio Vanzanna, que foi confessor do menino desde seus sete anos.

O encontro com a cruz de Cristo

Milagre
Manuel Foderà nasceu em 2001, na pequena cidade de Calatafimi, de apenas seis mil habitantes, situada nas colinas da região de Segesta, província de Trapani.

Dos seus primeiros anos não temos notícias, exceto que recebeu uma formação eximiamente católica. Porém, desde toda a Eternidade, a Providência Divina o havia escolhido para ser uma vítima expiatória pelos pecados do mundo.
Desse modo, quando tinha apenas quatro anos, despertou um dia com intensa dor na perna direita, seguida de forte febre e falta de apetite. Como seu estado se agravou, ele foi levado ao Hospital Pediátrico de Palermo, onde os médicos descobriram “uma infiltração massiva de um neuroblastoma de estágio IV, que havia invadido as crestas ilíacas da pélvis” do menino. Em outras palavras, um tumor muito maligno na virilha direita.
Começou então para o menino uma Via Crucis que terminaria cinco anos depois, com sua entrada ao Céu.
Com efeito, Manuel teve que passar por trinta ciclos de quimioterapia, um transplante de medula, além de operações e transfusões contínuas de sangue. O que não impediu a metástase de esparramar-se por todo seu frágil corpo, provocando dores inenarráveis.
Surpreendentemente, uma criança tão jovem suportava tudo com uma paciência heroica e espírito sobrenatural.
Dizem as testemunhas oculares que, apesar dos cruéis sofrimentos, o menino nunca se queixava. Sempre dava graças a Deus. Dele “emanava alegria, esperança, louvor e amor pela vida, e combateu com o sorriso. E, sem embargo, estava na Cruz”.

Seu desejo: ser o amigo querido de Jesus

Uma religiosa Franciscana do Evangelho, Irmã Prisca, que prestava serviço no Hospital, relata sobre Manuel:“Era pequeníssimo, mas antes de ir receber o tratamento, vinha sempre à capela e, ao ver-me, me dizia: ‘Irmã Prisca, leva-me à sacristia, porque quero ver Jesus na Cruz’”. A piedosa Irmã o pegava em seus braços e encostava sua cabecinha no tabernáculo, afirmando: “Era muito feliz, porque queria ser o amigo mais querido de Jesus. Depois rezávamos o Santo Rosário juntos, e com emoção eu o ouvia repetir a ladainha de memória”.
Manuel rezava o Santo Rosário em comunhão com o santuário de San Giovanni Rotondo, do Padre Pio. E definia essa devoção como “uma bomba atômica que lhe concede força para ir avante, apesar do sofrimento que aumentava dia a dia”. Para o menino, as Ave-Marias o faziam “sentir-se melhor”. Por isso, nos momentos em que a dor era mais forte, ou quando sentia algum medo, pedia que elas fossem rezadas junto de si, porque“me dão a força e a paz”.

Sua devoção à “Madonnina”

A intimidade de Manuel com a Mãe de Deus foi crescendo à medida que piorava a doença. Ele recorria à sua assistência maternal às vezes até mesmo nas menores coisas. Uma tarde, por exemplo, em que ele estava muito exausto por causa das inumeráveis terapias, e muito triste por não poder estar com seus amigos da escola, pediu à Maria Santíssima um consolo especial: ver uma bela queima de fogos de artifício. Ele comunicou esse pedido à sua mãe, dizendo: “Hoje à noite nós vamos ter fogos. A Madonnina vai me fazer esse favor, pois eu preciso disso!”. Para surpresa da mãe, nessa mesma noite, inesperadamente, da janela aberta do quarto do doente, viu-se o céu iluminado por fogos de artifício!

A Primeira Comunhão

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Desde pouco mais de cinco anos, o grande desejo do menino era de receber a Nosso Senhor na Eucaristia, a qual “se converteria no único e verdadeiro centro de sua existência até ele chegar, nos últimos tempos de sua vida terrena, a nutrir-se só com o corpo de Jesus Cristo”.

Esse grande dia chegou para ele no dia 13 de outubro de 2007, quando tinha apenas seis anos de idade. Tendo em vista suas condições alarmantes de saúde, o bispo autorizou-o a satisfazer seu veemente desejo de receber Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia.
Contudo, para um verdadeiro amigo da Cruz, isso também não foi sem provação. Pois nesse dia tão esperado, Manuel acordou com uma dor tão forte na perna, que não podia sair da cama para ir até a capela a fim de fazer a Primeira Comunhão. Entretanto, ele contava com a proteção da Mãe de Deus: ao meio-dia, contra todas as probabilidades, o mal desapareceu, e o menino pôde ir à capela, onde recebeu a Sagrada Comunhão das mãos do Pe. Mário, capelão do hospital. À mãe, que ficara surpresa com a repentina e inesperada melhora do filho, ele explicou o que ocorreu: “Nossa Senhora me disse: ‘Manuel, você não pode ir a Jesus mancando’. Então Ela fez a mágica de me curar. Obrigado, pequena Madonna do meu coração!”.

 Crescente intimidade com Jesus

A partir da Primeira Comunhão começaram seus colóquios cada vez mais assíduos com Jesus. Sempre que recebia o Corpo de Cristo, entrava em profunda contemplação. Se estivesse na igreja, sua fraqueza levava-o a se prosternar sobre o tapete ao pé do altar, para fazer a ação de graças; se O recebia na cama, cobria o rosto com o lençol.
Após fazer a ação de graças e se descobrir, Manuel relatava à sua mãe e aos seus dois pais espirituais, o Pe. Inácio Vazzana e o irmão carmelita José, com a máxima discrição, seus colóquios com Jesus. Colóquios que chegaram a níveis impressionantes e difíceis de compreender, e até mesmo de se crer, em um menino tão pequeno.
Um dia ele pergunta à sua mãe: “Por que Jesus me diz sempre esta frase: ‘O teu coração não é teu, mas meu, e Eu vivo em ti’?”. Ela não sabia o que responder, e não lhe ocorreu no momento a frase de São Paulo aos Gálatas, 2, 20: “Não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”.
A necessidade de estar com Jesus leva-o a pedir ao Bispo de Trapani: “Senhor Bispo. Eu realmente quero ter Jesus Eucarístico na minha casa! Então eu posso adorá-Lo quando quiser! Não se preocupe, já há o lugar para fazer o tabernáculo!“. Apesar da insistência, o pedido não pôde ser atendido, mas Manuel encontrará consolo na “imensa felicidade de poder servir à missa” na capela da Cúria, vestido com a túnica da Primeira Comunhão.

Como se deve comungar

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Algum tempo depois, a petição ao bispo vai se transformar em normas para uma boa Comunhão: “Bispo, o Senhor, por favor, diga aos seus sacerdotes para acostumar a todos a fazerem pelo menos cinco minutos de silêncio [depois da Comunhão] para serem capazes de falar e ouvir a Jesus em seu coração? Pense na última pessoa que recebeu a Comunhão: nem sequer teve tempo de dizer ‘Olá’ a Jesus!”. Esse pequeno teólogo, surpreende ao explicar depois, em carta a todos, amigos ou não, com uma sabedoria inusitada em sua idade, e autoridade de um homem de Deus: “Jesus está presente na Eucaristia. Ele se faz ver e ouvir na Santa Comunhão. Você não acredita? Tente se concentrar, sem se distrair. Feche os olhos, ore e fale, porque Jesus o ouvirá e falará ao seu coração. Não abra os olhos imediatamente porque esta comunicação para e nunca mais volta! Aprenda a ficar em silêncio e algo maravilhoso acontecerá! UMA BOMBA DE GRAÇA!”.

Como amar a Jesus

Cardeais, bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e simples leigos procuram passar algum tempo com esse menino apaixonado por Jesus. A casa e o hospital se tornam um caminho de amigos. Conventos inteiros elevam ao Céu súplicas e louvores por esse pequeno gigante de fé.
Ele não pode compreendera existência de pessoas que não creem em Deus. Um dia pergunta à mãe: “Mãe, realmente existem pessoas que não amam a Jesus? Devemos trazer para Ele tantas almas quanto possível”. A mãe lhe pergunta como se deve amar a Deus. Ele responde: “Para amar a Jesus deves rezar muito, trabalhar bem, estudar e fazer sacrifícios para oferecê-los a Ele”. Que sacrifícios faria esse pequeno sofredor, que aceitava alegremente os sofrimentos mais terríveis com espírito tão sobrenatural? Ele responde que há muitos sacrifícios que estão ao alcance de todos. E cita um que certamente lhe era penoso: “Por exemplo, não queres comer macarrão com abobrinha, e o comes contra a vontade, e o ofereces por amor a Jesus”. Não podemos deixar de sorrir…
Entretanto, ele fazia heroicamente outros grandes sacrifícios. O Pe. Inácio afirma: “Manuel me dizia sempre que Jesus lhe havia dado o sofrimento, e que tinha necessidade dele, porque juntos deviam salvar o mundo. Jesus o havia proclamado Guerreiro da Luz. Ele sempre lutou como um verdadeiro guerreiro, à imitação de Cristo, até entregar sua vida pela salvação e a conversão de todos. […] A mãe me chamou em diversas ocasiões para que tentasse convencer Manuel a tomar pelo menos o Paracetamol a fim de aliviar suas grandes dores. Ele me respondia que queria esperar um pouco mais antes de tomar, porque Jesus necessitava de seu sofrimento desse dia para salvar as almas”.

Caridade para com os pobres

Como um menino tão novo, quase sempre relegado ao seu leito de dor, praticava a caridade com os pobres? O Pe. Inácio conta dois exemplos que nos emocionam. Um dia o sacerdote queria dar-lhe um presente, e o levou à porta do hospital, onde uma mulher vendia objetos diversos. Disse-lhe então que escolhesse o brinquedo que lhe agradasse. Manuel, em vez de escolher um, escolheu dois brinquedos. Entretanto, logo que entrou na enfermaria, sua mãe o censurou pelo fato de, escolhendo dois presentes, ter feito seu confessor gastar mais. O menino respondeu que não fizera aquilo pelos dois brinquedos, mas porque “aquela pobre senhora tem que comer”.
Outra vez, num dia de inverno, ele foi levado ao hospital nos braços dos pais. Chegado à enfermaria, começou a chorar copiosamente. Surpresos, os progenitores lhe perguntaram a causa. Manuel respondeu: “Vocês não têm fé! Passamos pela porta do hospital, e nem mesmo deram uma esmola àquele pobre homem que morre de fome e frio. Vocês são ateus!”.
O pai então lhe disse que não tinha notado. Mas prometeu sair logo e dar ao pobre a esmola pedida por Manuel. Só assim ele se acalmou.

Recebe dois espinhos da coroa de Jesus

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Apesar da pouca idade, esta alma de escol continuava a participar dos fenômenos místicos reservados aos grandes santos. Revela o Pe. Inácio:“Pelo fim de sua vida,depois de uma gamagrafia, os médicos se deram conta de que ele tinha duas massas tumorais na cabeça, o que o fazia sofrer muito. Manuel revelou então aos seus que isso era um grande regalo que Jesus lhe tinha feito”. O sucedido, no entanto, fora algo simplesmente extraordinário: certo dia, após a Comunhão, chorando de felicidade, ele confiou à sua mãe e ao confessor que Jesus lhe havia entregado dois espinhos de sua coroa, e que agora ele os tinha em sua cabeça. O confessor afirma: “Houve uma coincidência perfeita entre os fatos: as duas massas tumorais e os dois espinhos da coroa de Jesus como dom, em sua cabeça”.

Finalmente, quando ele entrou na fase pré-agônica, os médicos suspenderam as transfusões de sangue, em sinal de capitulação ante o inevitável. Entretanto, para espanto deles, o coração do menino continuou batendo durante quatro dias. A mãe compreendeu que isso não ocorreria sem um pequeno milagre, e perguntou ao filho: “Manuel, fizestes outro pacto com Jesus, não é verdade?”. O menino confirmou com um gesto. Evidentemente ele estava oferecendo seus últimos haustos por alguém que só se conhecerá no dia do Juízo Final.
Enfim, no dia 20 de julho de 2010, Manuel entregou sua puríssima alma ao Criador. Ele quis ser enterrado com a túnica da Primeira Comunhão, repousando a cabeça sobre a Bíblia. Não se sabe por que motivo,na passagem de Jeremias (17, 14) está escrito: “Cura-me Senhor, e serei curado; salva-me e serei salvo; porque tu és a minha glória”.
O heroico menino dissera à sua mãe que ninguém deveria chorar sua morte, masque todos deveriam recolher-se em oração para que seu funeral pudesse refletir a grande festa que ele iria viver no Céu.
ABIM

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Notas:
Manuel, il bambino che parlava conGesùEucarestia
Manuel, un Angelo su ali d’aquila
La impresionante fe de Manuel, el niño que ofrecía sus dolores en la Eucaristía para salvar almas
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