Cozinheiros de mão cheia, camarinhas e castanhas: haverá sabores melhores?
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Ainda este Verão tive a sorte de parar o carro junto à praia de São Pedro, Maceda, concelho de Ovar, e deitar a mão a um arbusto de camarinhas. É um sabor que me é muito familiar, cresci a apanhá-las no pinhal, mas só agora percebi, com este texto do José Augusto Moreira, que estas pérolas do Atlântico são desconhecidas de muita gente. As camarinheiras estão em vias de extinção e é por isso que se torna ainda mais importante o projecto de uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra, que está apostada em recuperá-las. Estas bagas brancas, pequeninas, têm um sabor adocicado e simultaneamente ácido e várias qualidades nutritivas. Agora está em estudo o seu uso culinário. Eu aplaudo.
O sabor das camarinhas é apenas um dos muitos que temos para servir nesta semana em que nos dedicamos em exclusivo à gastronomia com uma edição especial. Amanhã é São Martinho e o Luís Octávio Costa foi apanhar castanhas a Sernancelhe – trouxe algumas e são bem boas! Ainda passou pela Frusantos, a empresa onde são seleccionadas, calibradas e embaladas as castanhas e depois foi provar os pratos em que elas são transformadas à escola de hotelaria. Verdadeiros pitéus!
Por falar em pitéus, estes seis cozinheiros não fazem a coisa por menos. São cozinheiros de mão cheia, daqueles que põem alma e coração numa simples sopa ou num cabrito assado no forno. Luísa, Miguel, Palmira, António, Serafim e José não empratam, servem no tacho; não têm estrelas Michelin, e não querem ter; mas falam de comida caseira, tradicional, com poesia. Vocês são uns sortudos, Alexandra Prado Coelho, José Augusto Moreira, Luís Octávio Costa e Mara Gonçalves: provaram estas delícias.
Deliciosas são também as trufas – mas muito caras. A Alexandra Prado Coelho deixa-nos mais uma vez com inveja: foi a Itália apanhar estes diamantes da floresta. A nós só nos resta ler e viajar com ela. E é também à boleia da Alexandra que vamos ficar a saber quais são os melhores peixes para comer no Inverno.
Já a Mara Gonçalves foi à Bélgica conhecer a única biblioteca de massas-mãe do mundo e descobriu lá coisas verdadeiramente fascinantes. Não vou contar mais para não estragar a surpresa: serve-se tudo aqui.
No próximo dia 21, Portugal vai receber pela primeira vez a gala do Guia Michelin. O José Augusto Moreira conta como estão a decorrer os preparativos e antecipa alguns dos cenários para a cena gastronómica nacional. Já o Aurélio Moreira e o Marco Vaza estrearam-se à mesa de restaurantes com estrelas e, em duas crónicas muito bem-humoradas, relatam a experiência. A do Porto, no Antiqvvum de Vítor Matos, está aqui; e a de Lisboa, no Alma, de Henrique Sá Pessoa, aqui.
Não há nenhuma razão para não ter ficado com água na boca. Eu volto no próximo sábado, com mais sugestões de coisas boas para fazer e comer. Até lá, bom fim-de-semana e boas viagens!