À Lupa | A suprema conquista
J. Carlos * |
O Espírito é o corpo mental e revela-se pelos próprios atributos: inteligência, raciocínio, vontade, consciência de si mesmo, domínio próprio, sensibilidade.
Encarna, justamente, para progredir através da luta e do sofrimento. Mas, a ideia de progresso implica a de imperfeição, logo ao chegar a este mundo traz uma bagagem mais ou menos volumosa de defeitos que devem ser corrigidos através das encarnações, para quem acredita nelas.
A vida humana é, portanto, a marcha para o aperfeiçoamento e cada um é senhor de seus próprios actos de cujas consequências deve assumir a responsabilidade.
Muita gente, entretanto, falha por ter a ilusão de que será mais fácil conduzir-se pelos instintos, hábitos e paixões que dominá-los.
Penetrando nesta vida, o ser humano é apenas um amontoado de boas e más tendências com inspirações idealistas e apelos instintivos. Dois elementos o compõem: o espiritual e o carnal. O corpo é instrumento do espírito que representa força, mas ambos estão sujeitos à lei universal – a de equilíbrio.
Para mantê-lo, existe uma poderosa acção construída que se chama Educação, cuja finalidade é equilibrar as tendências, restabelecendo, através de todas as deformações, o homem normal: o que possui inteligência capaz de ver, vontade que sabe querer, animado pela sensibilidade num corpo sadio. Educação é, portanto obre de grande alcance a realizar-se no tempo e no espaço, do nascimento à morte: durante a infância e adolescência, incutida pelos pais e professores; no estado adulto conquistada pela subtileza do raciocínio, inteligência, força e vontade. Requer esforço de grande valor, pois os resultados se multiplicam através das gerações, beneficiando não só o educador como o educando.
Ao ser aplicada, encontra um obstáculo – a natureza humana – contida de um lado, mas facilmente desviada para outro. É acto de colaboração porque exige esforço do educador e do educando. Este, o mais interessado, vai, aos poucos, conciliando as próprias tendências, o próprio temperamento e, enxergando os pontos fracos, consegue harmonizar a vida inteligente a do espírito. Para tanto, tem que aprender a dominar-se a fim de atingir a maior conquista a de si próprio.
Não se deve confundir adestracção com educação. Aquela se refere ao animal, esta ao ser humano.
Adestrar é levar o animal pelo medo a realizar actos que se transformem em hábitos; educar é desenvolver no homem a inteligência para utilizar-se de uma forte vontade, conquistando o equilíbrio mental, Adestra-se pela imposição, incutindo o medo; educa-se pelo amor, sugerindo raciocínio.
Há uma legião de pessoas que se obrigam a esforços e trabalhos na vida diária, porque desejam conquistar um lugar de destaque, porque ambicionam sair-se bem nos negócios, ganhar muito dinheiro. Tal comportamento representa gasto de energia para fins unicamente materiais.
Falham quando se trata da vida espiritual, a dos sentimentos. A que atribuir tal aspecto? À preguiça, á ignorância ou ao falso conceito de que a vida consiste na liberdade de fazer tudo que agrada?
Mas que liberdade será esta a de deixar-se dominar pelos impulsos e paixões, nossos maiores inimigos? Que valor encerra a liberdade do preguiçoso, incapaz de qualquer esforço? Do genioso, incapaz de dominar atitudes e palavras que lhe trarão desajustamentos e desgraças? Do sensual, incapaz de resistir ao capricho dos sentidos que lhe destruir+a a calma e felicidade? Que liberdade será a da prática de um acto que traz remorsos?
É preciso não confundir energia de forças cegas com o livre exercício de uma vontade esclarecida.
Consideram-se livres os que conseguiram o segredo da vida: ir aonde conduz o raciocínio dirigido por uma vontade forte e animado por uma sensibilidade controlada.
Essa é a suprema conquista, a que todos devem aspirar.
*Director