No centenário de Clepsydra, lista inédita com a caligrafia de Pessanha dá origem a uma nova organização da obra

No centenário de Clepsydra, lista inédita com a caligrafia de Pessanha dá origem a uma nova organização da obra

23/11/2021 0 Por Carlos Joaquim
Marcante no quadro do simbolismo português, Clepsydra, o único livro do poeta português Camilo Pessanha, antecipou o princípio modernista da fragmentação, inspirou a geração de Orpheu e foi aclamada, ao longo dos tempos, por escritores como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Andrade ou Jorge de Sena. No encerramento das comemorações do centenário da primeira edição, que data de 1920, a Guerra e Paz Editores retorna à intenção de organização do autor, baseada numa lista, inédita, com a caligrafia de Pessanha. Esta é uma edição organizada por Ilídio Vasco, que inclui notas do investigador e um anexo bilingue com textos que Pessanha traduziu do chinês, para conhecer a partir do próximo dia 30 de Novembro na rede livreira nacional e no site da editora.
Liberta de falsas emoções, ciente da passagem do tempo, aceitando lucidamente a realidade da vida e da morte, a poesia de Camilo Pessanha esquiva a todo o sentimentalismo. O seu único livro, Clepsydra, é para muitos o mais belo livro da poesia portuguesa. São sonetos, poemas, versos dispersos e fragmentos que correm neste relógio de água existencialista. Textos que, mesmo antes da primeira fixação e publicação, em 1920, já se haviam tornado «muito conhecidos, e invariavelmente admirados, por toda Lisboa», segundo descreve Fernando Pessoa.
Além de Pessoa, também Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Andrade ou Jorge de Sena aclamaram o génio de Camilo Pessanha, que inspirou fortemente a geração de Orpheu e o que viria a ser o modernismo português. Para Sena, Clepsydra revelou «um dos mais extraordinários artistas que em nossa língua haja escrito […] um puro milagre de murmúrio rigorosamente verbal, cuja alada forma a língua portuguesa nunca tivera e não tornou ainda a ter». Da sua poesia, prossegue Sena, deve realçar-se «a natureza reticente e delicadíssima» ou «a transposição quase mallarmeana dos factos, aliada a uma quebrada melancolia do dizer, que só tem paralelo em Verlaine».
Um século depois da primeira publicação, por Ana de Castro Osório, a obra é agora publicada pela Guerra e Paz, numa edição organizada por Ilídio Vasco. Distingue-se por recuperar a intenção original de ordenação dos poemas, baseada na interpretação de uma sinalética (+) críptica deixada por Camilo Pessanha numa lista manuscrita, que seria o plano da sua obra. Essa nota, escrita no verso da procuração que daria a Ana de Castro Osório os direitos de publicação da obra, é, pela primeira vez, divulgada em fac-simile nesta edição de Clepsydra, que inclui, para além da obra integral, as notas do organizador e um anexo com textos que Pessanha traduziu do chinês, ao longo da vida: «Elegias Chinesas» (em versão bilingue), «Legenda Budista», «Vozes de Outono», «Chon-kôc-chao» e «Provérbios Chineses».
Este é um livro da colecção Clássicos Guerra e Paz, disponível a partir do próximo dia 30 de Novembro na rede livreira nacional e no site da editora.
Clepsydra – Poemas de Camilo Pessanha
Camilo Pessanha
Ficção / Literatura Portuguesa
160 páginas · 15×23 · 14,00 €
Nas livrarias a 30 de Novembro
Guerra e Paz Editores