Eu, Psicóloga | Não chame de ansiedade: 8 exemplos de como banalizamos as doenças mentais
Os transtornos mentais serão a principal causa de incapacitação no mundo em 2030, segundo dados daOrganização Mundial da Saúde (OMS). A depressão, segundo a agência, será a primeira causa de morbidade. Embora problema seja algo sério A forma sútil como banalizamos estes transtornos no dia a dia: “Hoje estou um pouco deprimido”, “o problema é que é bipolar”… Nossa linguagem se alimenta de termos clínicos para definir situações cotidianas e com uma forte conotação negativa. Então simplesmente pare de:
1. Dizer que alguém tem “TOC” por ser muito metódico. Pessoas que sofrem de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) não são simplesmente muito organizadas: Sua preocupação excessiva com o perfeccionismo ou o controle mental e interpessoal impedem a manifestação de outras características, como a flexibilidade e abertura a novas experiências, e obscurecem ou impossibilitam a eficácia. Sentem-se frustradas por não conseguir terminar as tarefa, concentram-se totalmente em seu trabalho e desempenho, fazendo com que, em muitas ocasiões, deixem de lado suas atividades de lazer e amizades. Este transtorno afeta 1% da população, segundo o manual oficial de diagnóstico de doenças mentais DSM-IV.
2. Chamar de “esquizofrênico” algo louco, estranho ou descontrolado. O dicionário Michaelis define o termo “louco” como algo fora da normalidade, que age de forma irracional ou desprovido de juízo; mas a esquizofrenia é, segundo a OMS, “um transtorno mental grave que afeta cerca de 21 milhões de pessoas em todo o mundo. As psicoses, incluindo a esquizofrenia, são caracterizadas por alterações do pensamento, emoções, linguagem, a percepção do eu e da conduta […], que podem dificultar que a pessoa trabalhe ou estude normalmente”. O estigma e a discriminação podem ser traduzidos em uma falta de acesso aos serviços de saúde e sociais. Além disso, há um alto risco de que os direitos humanos das pessoas afetadas não sejam respeitados, por exemplo, com sua internação prolongada em centros psiquiátricos.
3. Dizer “depressão” quando queremos definir tristeza. frequentemente, usamos este termo para nos referirmos a aborrecimentos cotidianos. Acreditamos que há coisas tão importantes para as pessoas que podem gerar automaticamente uma doença como a depressão , e não é assim. O problema de usar o termo banalmente é que acabamos sendo críticos contra os que possuem um transtorno depressivo, porque acreditamos que seja uma desculpa para tirar uma licença. De acordo com o relatório da OMS Depression and Other Common Mental Disorders. Global Health Estimates (Depressão e Outros Transtornos Mentais Comuns. Estimativas Globais de Saúde), em 2015, 2.408.700 pessoas tiveram depressão na Espanha, onde 5,2% da população é afetada, sendo o quarto país europeu com maior número de casos.
4. Dizer “bipolar” para se referir a alguém que muda com facilidade de ideia ou estado de ânimo. O transtorno bipolar é, na verdade, uma doença mental grave do estado de ânimo, anteriormente conhecida como psicose maníaco-depressiva, segundo definição do site “1 de cada 4” para o combate do estigma das doenças mentais da Administração de Andaluzia. Tem períodos cíclicos de excitabilidade ou mania, que podem durar de dias a meses, e fases de depressão.”As pessoas que sofrem do transtorno correm um alto risco de suicídio.
5. Dizer “ansiedade” para falar de nervosismo ou mesmo de impaciência. A ansiedade, segundo a OMS, afeta 1,9 milhão de pessoas na Espanha (4,1% da população) que experimentam “um sentimento de apreensão ou medo, uma preocupação incontrolável e excessiva sobre um grande número de eventos ou atividades (como o desempenho no trabalho ou nos estudos), que geralmente dura mais de seis meses”, segundo o site “1 de cada 4”. Quando a origem desse sentimento é desconhecida, gera ainda mais angústia. O sentimento é acompanhado de três ou mais dos seguintes sintomas físicos: “Irritabilidade, inquietação ou impaciência, dificuldade de concentração ou ter a mente vazia, fadiga fácil, tensão muscular, dificuldade em conciliar o sono ou sensação de cansaço ao acordar”.
6. Dizer que alguém que vive em seu mundo é “autista”. As crianças autistas enfrentam muitos problemas de adaptação e desenvolvimento, “alteração dos comportamentos não verbais”, tais como manter contato visual com seu interlocutor, “incapacidade de desenvolver relacionamentos com colegas”, “atraso ou ausência total de desenvolvimento da linguagem oral”, “padrões de comportamento, interesses e atividades restritos ou repetitivos”… Não é apenas o que vivem em seu dia a dia; também enfrentam a “inexistência de um método geral de tratamento” ideal e escassa evidência científica nas “intervenções terapêuticas atuais”.
7. Chamar de “antissocial” alguém excêntrico, que não compartilha os mesmos interesses de outras pessoas; uma pessoa com um transtorno de personalidade antissocial possui, na verdade, “comportamento delituosos”, demonstra desconsideração e despreocupação, e vulneração dos direitos dos outros”. As características que acompanham sua doença provocam, em geral, “seu fracasso nos papéis que exigem sua responsabilidade — como pai, por exemplo — ou sua honestidade, por exemplo, como um empregado. A incidência é de cerca de 3% para os homens e de 1% para as mulheres.
8. Muitas destas doenças levam ao suicídio e, no entanto, dizemos alegremente que “dá vontade de se jogar pela janela”, “de cortar os pulsos” ou, diretamente, “vou me matar”, quando estamos cansados de algo. O suicídio causa a morte de 10 pessoas por dia na Espanha, sendo que os homens respondem por 75% do total, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE). “É imprescindível acabar com os mitos e ideias errôneas sobre este problema para eliminar o estigma e culpa da conduta suicida [como, por exemplo, que uma tentativa de suicídio é para chamar a atenção], facilitando, assim, que pessoas com ideações suicidas peçam ajuda”, explica Nel A. González Zapico, presidente da Confederação Espanhola de Saúde Mental.
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