INÍCIO LUSA Proposta do Governo sobre lei laboral viola acordo da Concertação Social – CIP
A CIP — Confederação Empresarial de Portugal considera que a proposta do Governo sobre alterações à legislação laboral que será votada no parlamento na quarta-feira “viola frontalmente” alguns dos pontos do acordo assinado na Concertação Social.
A posição da CIP, uma das quatro confederações patronais que assinou o acordo com o Governo na Concertação Social, consta dos contributos enviados ao parlamento no âmbito da apreciação pública da proposta do executivo que será votada na generalidade na quarta-feira no plenário.
Segundo a confederação presidida por António Saraiva, entre as matérias que “desvirtuam ou violam o acordo tripartido” está o artigo relativo ao banco de horas grupal.
A CIP exige que fique expresso que o banco de horas grupal será “aplicado” (e não apenas instituído), após consulta aos trabalhadores e desde que 65% concordem, sendo ainda clarificado que essa percentagem é sobre “a totalidade dos trabalhadores consultados” e não sobre a totalidade dos trabalhadores existentes na empresa.
Além do banco de horas, a confederação patronal exige alterações sobre os artigos relacionados com a cessação e vigência das convenções coletivas, sublinhando que nesta matéria “a violação e desvirtuação do acordado são, pois, totais”.
As correções propostas pela CIP “são essenciais para o integral respeito do acordo subscrito” em 18 de junho na Concertação Social entre as confederações patronais e a UGT, lê-se no documento.
Também a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), que assinou o acordo, diz que o seu parecer “só considera as matérias que se julgue desrespeitá-lo [ao acordo]” ou que foram “introduzidas para além deste” ou ainda “as normas julgadas inconstitucionais”.
Em causa, segundo a CCP, está a duração do período experimental, que será alargada de 90 dias para 180 para jovens à procura do primeiro emprego e desempregados de longa duração. A proposta do Governo prevê ainda que a duração do período experimental é reduzida ou excluída, tendo em conta os contratos a termo anteriores “para a mesma atividade”.
Para a CCP, deverá ser clarificado que nestas situações contam apenas os contratos celebrados com o mesmo empregador e “nos últimos dois anos”.
Entre as várias alterações defendidas, a confederação presidida por Vieira Lopes sugere que, nas microempresas, caso a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) não designe em 10 dias a data para a realização do referendo com vista à instituição do banco de horas grupal, o mesmo “pode ser realizado pelo próprio empregador”.
Por sua vez, a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), no parecer entregue no parlamento, também critica o vazio legal sobre a consequência para as microempresas se, ao fim de 10 dias, a ACT não tiver definida a data para o referendo sobre o banco de horas.
A CAP defende ainda que a norma que cria a taxa adicional para a Segurança Social sobre as empresas que abusem dos contratos a termo seja melhorada para não suscitar dúvidas às empresas quanto à sua aplicação.
Por sua vez, a Confederação do Turismo Português (CTP) defende, entre outras matérias, o aumento de três para cinco do número de renovações máximas dos contratos a termo certo, sublinhando que certas atividades económicas, como o turismo, “são marcadas por necessidades de trabalho imprevisíveis decorrentes de diferentes e sucessivos motivos, sempre temporários”.
Sobre a duração do período experimental, a CTP considera que “um prazo de apenas três meses é, em muitos casos, manifestamente curto” para que o empregador se certifique “da capacidade e especificidades técnicas do trabalhador para o exercício do cargo para o qual foi contratado”.
O acordo da Concertação Social sobre legislação laboral foi assinado em 18 de junho entre o Governo, a CIP, a CCP, a CAP, a CTP e a UGT, deixando de fora a CGTP, por considerar que o documento “perpetua a precariedade”.
Vários projetos de alteração ao Código do Trabalho dos partidos da esquerda no parlamento foram discutidos e votados em 06 de julho e, na quarta-feira, será a vez da proposta do Governo. A discussão na especialidade deverá ocorrer após as férias parlamentares, em setembro.
Fonte: DN