Eua | Homem libertado ao fim de quase 50 anos depois de anulada sentença por violação

15/11/2017 0 Por Carlos Joaquim
Wilbert Jones tem agora 65 anos
Um homem saiu esta quarta-feira de uma prisão no Estado do Luisiana, ao fim de quase 50 anos, depois de um juiz ter anulado a sua condenação por rapto e violação, considerando o seu caso “fraco, na melhor hipótese”.
As autoridades retiveram provas, há décadas atrás, que poderiam ter inocentado Wilbert Jones, que tem agora 65 anos, afirmou o juiz estadual Richard Anderson.
À saída da prisão, Jones agradeceu a Deus pela sua liberdade e à sua leal família por nunca ter desistido da esperança. Também abraçou a sua equipa de advocacia, do Protejo Inocência, de Nova Orleães, com lágrimas nas pessoas que o aguardavam fora dos portões da prisão East Baton Rouge Parish.
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After 45+ yrs behind bars, Wilbert Jones says his first meal will be seafood gumbo. His niece stayed up last night cooking. More >> http://bit.ly/2zL4XnU  @WAFB
A advogada de Jones, Emily Maw, elogiou “a força extraordinária” de um homem “que passou cerca de 16 mil dias na prisão por algo que não fez” e que, não obstante, “sai com fé em Deus e na humanidade”.
Os procuradores afirmaram que não tencionam julgar Jones outra vez, mas acrescentaram que vão solicitar ao Supremo Tribunal estadual que reveja a decisão do juiz.
Maw disse à AP que seria “legalmente incorreto e moralmente problemático” se o gabinete do procurador do distrito de East Baton Rouge insistir em tentar manter a condenação, porque, se o fizer, estaria a “dizer que quando Wilbert Jones foi detido em 1972, então um jovem, negro, pobre, com 19 anos, não merecia os direitos que as pessoas têm hoje”.
Jones foi detido por suspeita de raptar uma enfermeira, à mão armada, de um parque de estacionamento do hospital de Baton Rouge e violá-la atrás de um edifício, na noite de 2 de outubro de 1971. Jone foi condenado de rapto agravado num julgamento em 1974 e sentenciado a prisão perpétua.
O caso do Estado contra Jones “assentou inteiramente” no testemunho da enfermeira e na sua “questionável identificação” de Jones como o seu atacante, afirmou o juiz.
A enfermeira, que faleceu em 2008, selecionou Jones de um conjunto de homens, alinhados pela polícia para identificação, mais de três meses depois da violação. Mas também disse à polícia que o homem que a violou era mais alto e tinha uma voz “mais grossa” do que Jones tinha.
Os advogados de Jones sustentam que a descrição da enfermeira corresponde à de um homem que tinha sido detido mas nunca acusado pela violação de uma mulher raptada do parque de estacionamento de outro hospital de Baton Rouge, 27 dias depois do ataque à enfermeira. O mesmo homem também foi detido por suspeita de violação de outra mulher em 1973, mas só foi acusado e condenado por ataque à mão armada neste caso.
Anderson disse que as provas mostram que a polícia sabia das parecenças entre este homem e a descrição feita pela enfermeira do seu atacante.
“Não obstante, o Estado falhou em dar esta informação à defesa”, escreveu o juiz.
Os advogados de Jones salientaram que o procurador que conseguiu a sua condenação tinha um registo de escamotear provas favoráveis à defesa. Um parecer de 1974 do Supremo Tribunal do Estado destacou que o procurador era responsável pela anulação de 11 sentenças no ano anterior — “uma estatística incrível para um único procurador”, como foi então escrito.
Enquanto apresentava as novidades relativas a este caso que a sua organização assumiu há 15 anos, Maw cedeu à emoção e ficou sem fala.
“Às vezes é preciso muito tempo para que os tribunais reconheçam um erro”, disse.
Fonte: DN