Eu, Psicóloga:Profecias autorealizáveis: Quando nos deixamos ser engavetados
“A profecia autorrealizável é, no início, uma definição falsa da situação, que suscita um novo comportamento e assim faz com que a concepção originalmente falsa se torne verdadeira.” Robert Merton – Psicólogo
O conceito de profecia auto realizadora não é novo em psicologia. Há muito se percebe que a expectativa de uma pessoa a respeito do comportamento de outra pode contribuir para que essa última se comporte de acordo com o que se espera dela. Desta forma uma profecia autorrealizável é um prognóstico que, ao se tornar uma crença, provoca a sua própria concretização. Dito de outra forma , quando as pessoas esperam ou acreditam que algo acontecerá, age como se a profecia ou previsão já fosse real e assim a previsão acaba por se realizar efetivamente.
Profecias (e estereótipos) são impostos e repetidos até que o próprio sujeito se modifique, tornando-se aquilo que o outro acredita que ele é. Se permitirmos, somos engavetados. Algo que foi dito ao ser assumido como verdadeiro – embora seja falso – uma previsão pode influenciar o comportamento das pessoas, seja por medo ou por confusão lógica, de modo que a reação delas acaba por tornar a profecia real.
Este processo não é consciente e nem sempre esta pessoa deseja que tais coisas aconteçam, mas ao “profetizar”, ou seja, ao acreditar que ocorrerão acabará por colaborar para este desfecho sem ao menos perceber o quanto interferiu no resultado.
Vemos isto ocorrer o tempo todo, por exemplo quando um professor comunica a uma criança a mensagem “Eu sei que você é inteligente”, a criança aceita essa avaliação e muda seu autoconceito para incluí-la. Infelizmente, podemos presumir que o mesmo princípio também se aplica a estudantes cujos professores enviam a mensagem “Eu acho que você é burro”. Não acredita? Pense nesses exemplos :
- Esperava ficar tão nervoso que estagnada em uma entrevista de emprego. Foi o que aconteceu.
- Previa se divertir muito (ou nem um pouco) em uma reunião social. Suas expectativas se consumaram.
- Um professor ou chefe explicou uma nova tarefa dizendo que provavelmente você não faria direito a princípio. Você não fez direito.
- Um amigo descreveu alguém que você estava prestes a conhecer, dizendo que você não gostaria da pessoa. A previsão foi carreta: você não gostou da pessoa.
Em cada um desses casos, há uma boa possibilidade de que o evento tenha ocorrido porque foi previsto que ocorreria. Você não precisava ter estragado a entrevista, a festa pode ter sido chata por você ter contribuído para isso, você poderia ter se saído melhor no serviço se o chefe não tivesse falado, e talvez gostasse do novo conhecido se o amigo não tivesse lhe incutido um preconceito. Em outras palavras, foi a expectativa que ajudou a fazer com que cada evento ocorresse.
Esse tipo de profecia auto-realizável é uma força poderosa para moldar o autoconceito e, em consequência, o comportamento das pessoas, como tem sido demonstrado em diversos ambientes, além das escolas. E pode ser usada tanto para o mal quanto para o bem.
Na medicina, pacientes que, sem saber, tomam placebos — substâncias como injeções de água esterilizada ou pílulas de açúcar, sem o menor valor curativo — muitas vezes reagem ao tratamento de forma tão positiva quanto os pacientes que receberam de fato uma droga. Os pacientes acreditam que tomaram uma substância que fará com que se sintam melhor, e essa convicção produz uma “cura”.
Na psicoterapia, Rosenthal e Jacobson apresentam vários estudos que sugerem que pacientes que acreditam nos benefícios do tratamento mostram melhoras, independentemente do tipo de tratamento que recebem.
Mas o que podemos fazer para evitar que isto ocorra? A primeira coisa é se conhecer. O autoconhecimento nos ajuda a entender quais são as nossas crenças limitadoras, e como ela atrapalha o nosso dia. Observe seus comportamentos e sentimentos, a auto-observação ajuda na identificação destas profecias quando estiverem causando danos no bem estar emocional, social, profissional, dentre outros. Lembre-se: não é por que alguém te disse algo a seu respeito que aquilo é verdade. Por fim, mude seus pensamentos substituindo-os por algo positivo. É a velha história do copo com água. Ele pode estar meio cheio ou meio vazio. Depende do que você quer ver.
Por Debora Oliveira.