Amnistia Internacional retira distinção a Aung San Suu Kyi por “vergonhosa traição” aos direitos humanos
A líder birmanesa é acusada de “indiferença” perante as atrocidades cometidas pelos militares, por atacar a liberdade de expressão e perpetuar narrativas de ódio contra as minorias.
A Amnistia Internacional anunciou, esta segunda-feira, que vai retirar a alta honra de “Embaixadora de Consciência” a Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz em 1991 e atual líder de facto de Myanmar (antiga Birmânia), por não ter usado a sua autoridade política e moral para salvaguardar os direitos humanos.
O secretário-geral da Amnistia Internacional, Kumi Naidoo, escreveu no passado domingo, dia 11 de novembro, uma carta dirigida à líder birmanesa a informar a intenção de retirar aquela que é considerada a maior distinção pela organização dos direitos humanos, que lhe tinha sido entregue em 2009 pela luta pacífica e não violenta pela democracia e os direitos humanos.
“Como Embaixadora da Amnistia Internacional da Consciência, a nossa expectativa era que continuasse a usar a sua autoridade moral para falar contra a injustiça onde quer que a visse”, escreveu Kumi Naidoo.
O secretário-geral da Amnistia Internacional mostrou-se dececionado com a “indiferença” de Aung San Suu Kyi, acusando-a de uma “clara traição” aos direitos humanos. A líder escolheu “ignorar e desculpar a brutal opressão e os crimes contra a humanidade”, lê-se na carta que retira o “símbolo de esperança, coragem e a defesa eterna dos direitos humanos” a Aung San Suu Kyi.
Violação dos direitos Humanos e ataques à liberdade de expressão
A Amnistia Internacional criticou o fracasso e a falta de atuação política e moral de Aung San Suu Kyi, e do seu governo, a quando as atrocidades militares contra os Rohingya, grupo étnico que pratica o islamismo e que viveu durante anos no regime de segregação e discriminação do Apartheid.
Nos ataques contra os Rohingya, as forças de segurança de Myanmar mataram milhares de pessoas e queimaram centenas de casas. O clima de violência levou a que mais de 27 mil pessoas fugissem para o Bangladesh. Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) acusou os militares de cometerem o crime de genocídio.
A administração de Aung San Suu Kyi protegeu as forças de segurança da responsabilidade e rejeitou as alegadas acusações de violação aos direitos humanos, obstruindo investigações internacionais sobre os abusos.
A líder birmanesa mostrou intolerância à liberdade de expressão quando aprisionou dois jornalistas da Reuters pelo trabalho jornalístico que documentava o massacre militar Myanmar.