À Lupa | Liberdade e autoridade
J. Carlos * |
Liberdade é o direito de ter iniciativa, de assumir os próprios actos. Desde cedo, deve-se preparar a criança para o bom uso da liberdade, excluindo o processo empírico da oposição sistemática.
Não se pode conceber que, numa época em que todos os ramos de actividade humana exigem preparo técnico, não se inclua o mais delicado, o da formação da personalidade.
Liberdade e autoridade, caminhos conduzentes à personalidade, exigem ambiente onde não haja constantes ameaças, castigos frequentes, referencias desmoralizadoras, pancadarias, suborno pela compra do esforço. É acto venal a promessa de presentes pelas notas obtidas.
A prática dos deveres e bons actos tem como prémio satisfação íntima e tranquilidade que dispensam toda a sorte de elogios e dádivas materiais.
Autoridade e liberdade serão duradouras e respeitadas se apresentarem aspecto regulador, criador de ordem e auto-disciplina.
Se o autoritarismo é inimigo da autoridade, o liberalismo denota insuficiência na sua garantia. A obediência cega resultante do autoritarismo, é acto puramente material que deforma o carácter, sugerindo medo, revolta ou mentira. Mas o que significa adesão não só esclarece como encoraja e aperfeiçoa.
A liberdade não deve ser encarada como uma satisfação de capricho ou fantasia nociva, mas como força de adesão às normas sociais e aos preceitos morais e espirituais.
Nessa conjuntura, a função do educador não será a de espreita como um cão de fila, visando o erro, nem a de indiferentismo, mas, a de constante observação. Não admitirá o erro e puni-lo-á de acordo com a gravidade do caso; ensinará primeiro, para exigir depois,; informará o educando dos perigos de um acto por ele imaginado ou praticado para que o advirta, caso haja insistência. Promessa de castigo não cumprida desmoraliza o educador e enfraquece o valor da autoridade. Sanções e penalidade prendem-se directamente à prática da autoridade.
A falta de autoridade degenera em ociosidade e indisciplina. Nos lares desorganizados, a criança tem todos os direitos, mas, no lar bem formado, os direitos e deveres são iguais, tanto para os adultos como para as crianças.
A delinquência juvenil tem etapas: começa com a fraqueza dos pais no abandono dos filhos (principalmente dos índole má) que adoptam um impressionante relaxamento na vida, seguido de atitude demissionária.
É na vivência do quotidiano que a criança aprende o pleno uso da liberdade. Sua vida estará sempre sujeita ao constrangimento e à tolerância: rigidez nas horas certas de levantar, comer e deitar. As concessões ficarão nos intervalos . Não se esqueçam os pais que, delimitando a liberdade, estarão concorrendo para que os filhos se fortifiquem, amadureçam , progridam na conquista da autonomia. Será importante despertar-lhes a confiança em si, acostumá-los a tomar iniciativas ao seu alcance, evitar que deixem fica na dependência da opinião alheia.
A criança é o melhor juiz do valor do mando dos adultos. Instintivamente, repele os processos que humilham e desanimam. Sente-se infeliz com a má orientação, e a infelicidade se traduz pelos sintomas clássicos do roer as unhas, dos tiques, da mentira e constante agressividade.
Só tem direito de mandar quem sabe obedecer aos preceitos da vida e às leis superiores às suas.
“A liberdade joga o homem no encontro com o outro, na responsabilidade de cuidar de si e do outro. Mas o homem quer tudo, menos isso.” – Aleteia.
*Director